O OPERÁRIO
Todas as teorias democráticas, sejam burguesas ou socialistas, levam
necessariamente em seu recheio algum conceito de dignidade do trabalho. Se os
despossuídos fossem privados desta ilusão de que seus sofrimentos na linha de
montagem são, de alguma forma, louváveis e agradáveis a Deus, só lhes restaria
em seu ego uma dor de barriga. Não obstante, uma ilusão é uma ilusão, e esta é das
piores. Ela é fruto da confusão entre um artista que se orgulha do seu trabalha e a
docilidade canina e penosa do operário em sua máquina. A diferença é importante
e enorme. Mesmo sem qualquer remuneração, o artista continuará a trabalhar do
mesmo jeito; sua verdadeira recompensa, de fato, é quase sempre tão mísera que
ele chega a passar fome. Mas suponha que o operário de uma fábrica de tecidos
não ganhe nada por seu trabalho: continuaria trabalhando do mesmo jeito? Pode-
se imagina-lo submetendo-se voluntariamente a uma compulsão irresistível de
expressar sua alma em mais 200 pares de calcinhas femininas?
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