Amile - 1º capítulo
Sinal amarelo. Os carros reduzem a velocidade. Amile observou o movimento. Sinal vermelho. Os carros param. Ela aproximou-se de um carro e bateu sutilmente no vidro da janela. O vidro escuro não abriu. Amile foi no carro de trás, mas não adiantou, o vidro está fechado.
— Deve ser o calor – riu a garota.
As janelas dos carros se abriam apenas para crianças até dez anos e permaneciam fechadas para uma garota de dezessete anos.
—Estou velha pra isso – disse ela caminhando para calçada.
Andando entre as pessoas, não se envergonhando dos pés descalços, do vestido sujo ou dos cabelos despenteados, ela pensava no que comer. Passou em frente a uma quitanda, com frutas expostas em caixas na calçada. Ela aproximou-se de uma caixa com maçãs e pegou uma.
— Ela pegou uma maçã – percebeu uma mulher que passava por ali.
— Devolve a maçã – esbravejou o vendedor.
Amile saiu correndo do vendedor. Ela corria empurrando as pessoas na calçada até avistar uma viela, onde ela entrou a toda para se esconder do vendedor. Mas ao entrar na viela, Amile chocou-se com um garoto e acabou caindo no chão.
— Você está bem, não se machucou – disse o garoto levantado Amile.
O vendedor estava quase chegando na viela, Amile voltou a correr ignorando o garoto.
— Ei garoto – disse o vendedor escorando na parede da viela - Você não viu uma garota passar por aqui correndo?
— Uma garota descalça, com um vestido sujo? – perguntou o garoto.
— Essa mesma, a pirralha roubou uma maçã da minha quitanda.
— Ela esbarrou em mim e correu para aquele lado – o rapaz aponta para o lado contrário que Amile fugiu.
— Obrigado.
— Boa sorte na perseguição.
O vendedor respira fundo e segue na direção que o garoto indicou.
Já começava anoitecer quando Amile chegou a velha estação ferroviária. Ela sentou-se no banco e descansou um pouco.
— Ei garota – disse o garoto assustando Amile que não percebeu que ele estava ali.
— Meu Deus, dá onde você surgiu – disse Amile levantando-se e se afastando dele.
— Até parece que viu um fantasma. Não precisa ter medo de mim. Só vim trazer isso – o garoto mostra a maçã.
— Como você me achou?
— Eu a segui.
— Costuma seguir as pessoas que encontra na rua.
— Não, só quando uma garota me atropela e não pede desculpa.
— Me seguiu só por isso.
— Também vim trazer o que você deixou cair, você não quer essa maça de volta?
— Deixa aí no chão – ordenou Amile.
— Não, não, não! Se quiser vai ter que vim pegar aqui na minha mão.
Amile aproximou-se devagar e pegou rapidamente a maçã da mão do garoto. Ela sentou-se no banco e começou a comer.
— Ta olhando o que, nunca viu ninguém comendo, ou ta querendo uma foto minha – disse Amile perturbada com o garoto olhando pra ela com um sorriso.
— Estou esperando.
— Nem pense que eu vou oferecer uma mordida. Eu estou com muita fome.
— Estou esperando que me agradeça.
— Mas do que?
— Por trazer a maçã que você perdeu e está comendo agora e não quer repartir.
— Pare de ser cínico, sabe muito bem que roubei essa maçã.
— Então me agradeça por trazer a maçã que você roubou e depois perdeu.
— Obrigada. Já pode ir embora.
— Tem certeza. Uma maçã não mata a fome, se quiser posso pagar algo melhor.
— Não quero nada de você, só que vá embora.
— Meu nome é Ângelo e o seu?
— Amile, agora vaza.
— Foi um prazer ajudar você... A-mi-le – disse Angelo dando as costas para ela e indo embora.
0 comentários:
Postar um comentário