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domingo, 19 de abril de 2009

Amile - 1º capítulo

Sinal amarelo. Os carros reduzem a velocidade. Amile observou o movimento. Sinal vermelho. Os carros param. Ela aproximou-se de um carro e bateu sutilmente no vidro da janela. O vidro escuro não abriu. Amile foi no carro de trás, mas não adiantou, o vidro está fechado.

— Deve ser o calor – riu a garota.

As janelas dos carros se abriam apenas para crianças até dez anos e permaneciam fechadas para uma garota de dezessete anos.

—Estou velha pra isso – disse ela caminhando para calçada.

Andando entre as pessoas, não se envergonhando dos pés descalços, do vestido sujo ou dos cabelos despenteados, ela pensava no que comer. Passou em frente a uma quitanda, com frutas expostas em caixas na calçada. Ela aproximou-se de uma caixa com maçãs e pegou uma.

— Ela pegou uma maçã – percebeu uma mulher que passava por ali.

— Devolve a maçã – esbravejou o vendedor.

Amile saiu correndo do vendedor. Ela corria empurrando as pessoas na calçada até avistar uma viela, onde ela entrou a toda para se esconder do vendedor. Mas ao entrar na viela, Amile chocou-se com um garoto e acabou caindo no chão.

— Você está bem, não se machucou – disse o garoto levantado Amile.

O vendedor estava quase chegando na viela, Amile voltou a correr ignorando o garoto.

— Ei garoto – disse o vendedor escorando na parede da viela - Você não viu uma garota passar por aqui correndo?

— Uma garota descalça, com um vestido sujo? – perguntou o garoto.

— Essa mesma, a pirralha roubou uma maçã da minha quitanda.

— Ela esbarrou em mim e correu para aquele lado – o rapaz aponta para o lado contrário que Amile fugiu.

— Obrigado.

— Boa sorte na perseguição.

O vendedor respira fundo e segue na direção que o garoto indicou.

Já começava anoitecer quando Amile chegou a velha estação ferroviária. Ela sentou-se no banco e descansou um pouco.

— Ei garota – disse o garoto assustando Amile que não percebeu que ele estava ali.

— Meu Deus, dá onde você surgiu – disse Amile levantando-se e se afastando dele.

— Até parece que viu um fantasma. Não precisa ter medo de mim. Só vim trazer isso – o garoto mostra a maçã.

— Como você me achou?

— Eu a segui.

— Costuma seguir as pessoas que encontra na rua.

— Não, só quando uma garota me atropela e não pede desculpa.

— Me seguiu só por isso.

— Também vim trazer o que você deixou cair, você não quer essa maça de volta?

— Deixa aí no chão – ordenou Amile.

— Não, não, não! Se quiser vai ter que vim pegar aqui na minha mão.

Amile aproximou-se devagar e pegou rapidamente a maçã da mão do garoto. Ela sentou-se no banco e começou a comer.

— Ta olhando o que, nunca viu ninguém comendo, ou ta querendo uma foto minha – disse Amile perturbada com o garoto olhando pra ela com um sorriso.

— Estou esperando.

— Nem pense que eu vou oferecer uma mordida. Eu estou com muita fome.

— Estou esperando que me agradeça.

— Mas do que?

— Por trazer a maçã que você perdeu e está comendo agora e não quer repartir.

— Pare de ser cínico, sabe muito bem que roubei essa maçã.

— Então me agradeça por trazer a maçã que você roubou e depois perdeu.

— Obrigada. Já pode ir embora.

— Tem certeza. Uma maçã não mata a fome, se quiser posso pagar algo melhor.

— Não quero nada de você, só que vá embora.

— Meu nome é Ângelo e o seu?

— Amile, agora vaza.

— Foi um prazer ajudar você... A-mi-le – disse Angelo dando as costas para ela e indo embora.

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