A Dona do Brechó pede abra corpo

O maior estardalhaço se formou em frente ao Brechó, uma lojinha de roupas, sapatos, artigos em geral, na maioria falsificados.

As crianças pobres, sujas, feias, começaram a correr de um lado para o outro.

- A polícia! a polícia! polícia! - gritavam os pivetes.

Dona Helane, dona do Brechó, uma mulher simpática, estava no local, mas não parecia muito empolgada com a chegada das autoridades. Estava fumando o seu cigarro vagabundo, com suas roupas vagabundas.

- Vai lá chamar a merda do meu advogado - gritou ela para o primeiro desgraçado que viu na frente.

As viaturas pararam em frente a loja. Homens armados desceram raivosos. Já na porta, deram um rastapé em um pobre coitado que entrou na loja para comprar um cinta.

- Polícia, documento!

O chefe dos policiais, um sujeito carrancudo, entrou dando carteirada.

- Eu mando nesta bosta, eu quero saber da piranha, onde está a piranha?

Os funcionários, clientes, ninguém respondeu. Então o chefe pegou o primeiro moleque que viu na frente e colocou o seu revólver na cabeça do infeliz do moleque.

- Cade a piranha, vou contar até cinco e depois vou atirar... É um... É dois...

O menino estava se mijando nas calças, coitado, ia morrer por causa de uma merda de uma mulher.

- Eu estou aqui chefe - disse Dona Helane entrando pomposa, passando pelos inúmeros artigos esportivos em geral.

- Minha senhora, a senhora tem direito a um advogado.

- Eu sei chefe.

O chefe soltou o menino.

- Foi brincadeira filho - disse o chefe pegando uma nota de cinco reais do bolso.

- Compre um quilo do bom pra você filho.

O menino pegou a nota de cinco reais e saiu saltitante e risonho pelas ruas.

- Minha senhora, a senhora vai me acompanhar na viatura até a delegacia de polícia, onde a senhora vai ser ouvida pelo senhor delegado de polícia, depois iremos levá-la para fazer exame de corpo de delito, a senhora vai passar uma noite na cadeia minha senhora, e depois provavelmente será solta minha senhora, a senhora me entendeu minha senhora - encheu o saco o chefe.

- Claro chefe.

Na delegacia, Dona Helane recebeu a visita do seu advogado.

- Então? Que hora eu vou sair desse lixo - perguntou a piranha.

- A senhora está com a ficha muito suja, tem muita porra falsificada naquela merda da sua loja, não vai ser fácil dar um chapéu na justiça.

- Que se foda meu irmão, to cagando e mijando, quero sair desse cu de mundo o mais rápido possível, entra com o pedido de abra corpo logo no supremo, eles soltaram aquele bosta de banqueiro, porque não vai me soltar?

- Soltaram porque ele é peixe grande, tem bufunfa para encher o rabo do poder judiciário e você, o que tem?

- Porra, então vamos apelar, diga que eu tenho problema de saúde, quem sabe aqueles filhos da puta não fiquem com dó de mim.

- Que problema de saúde você tem?

- Inventa qualquer merda, fala que eu tenho câncer, fala que eu tenho AIDS, fala que eu tenho esclerose, porra, pode falar que eu tenho hemorróidas, to nem aí, inventa qualquer coisa.

- Deixa comigo.

E menos de 48 horas, a perua do brechó conquistou o seu abra corpo, e voltou a sua vida normal.